sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Antropofagia Feminina e o Mito da Vagina Dentada.



Versão moderna do Mito da Vagina Dentada, o filme “Teeth” de 2007.



Os homens sempre procuraram entender as mulheres. A observação masculina ao feminino sempre foi tema de tratados religiosos, psicológicos, culturais e científicos. Podemos dizer que durante boa parte da Idade Média predominou o medo nessas narrativas. Conhecidas como “agentes do satã” as mulheres estavam muito mais ligadas do que os homens ao ciclo da vida. Assim, ao mesmo tempo em que geram e dão luz a uma nova vida, elas também terminam este ciclo, desde a Bíblia são as mulheres que cuidam dos mortos, limpam os cadáveres enterrando seus filhos, maridos, irmãos... Como capazes criar mas também destruir, as mulheres sempre foram vista com desconfiança.

Mesmo antes de Freud e a sua teoria da inveja do pênis, são inúmeros os relatos da Vagina Dentada. Várias culturas, desde os indígenas da America do Norte passando pela Índia até o famoso livro “Martelo das Feiticeiras”, contam a história do medo da castração masculina. São comuns nestes relatos vaginas com serpentes ou dentes que sem dó nem piedade decepam pênis (ui...)! Não se assustem, meninos, é só uma narrativa ficcional, nada disso é possível na realidade. Mulheres, sejam boazinhas...

A misoginia também foi confirmada pela Igreja Católica. Eva, por ter tentado Adão com a famigerada maçã, estaria condenada a transmitir o legado da menstruação e do parto com dor para todas nós mulheres. Segundo alguns teóricos do catolicismo, a mulher deveria ser controlada por afastar o homem da espiritualidade. Tanto Pandora como Eva foram condenadas por trazer o pecado, a desgraça e a morte ao mundo. Nessa tentativa de sujeitar o sexo feminino, surgi a ideia da virgindade e da tão famosa caça às bruxas. Na literatura religiosa São Tomas de Aquino já dizia que a mulher era somente um receptáculo, um “macho deficiente” que por não possuir razão deveria ser governada por seu marido.

E o discurso continuou e continua por séculos. Acreditem, repetimos e reproduzimos atualmente parte destas teorias. Falando com os meus alunos do 6⁰ ano sobre Educação Sexual, abordei com eles a questão da relação de gêneros, pedi que os meninos descrevessem características femininas, adivinha o que saiu? Bom, adjetivos como; delicada, sensível, fofoqueira, frágil, chata.... todos os velhos clichês que confirmam a fragilidade do “belo sexo” e a necessidade deste ser governado, controlado e subjugado pelo homem, o sexo forte! Estou longe de defender a masculinização das mulheres como fizeram as primeiras feministas, mas penso também que devemos mostrar menos ”frescura” e mais fortaleza. É necessário, urgentemente, criar uma nova geração de homens, que nos vejam mais como iguais do que como tão diferentes. Chega dessa história de que os homens precisam mais de sexo do que as mulheres, de que somos mais fracas, mais passionais, menos racionais, mais fiéis...Crescemos como estranhas e desconhecidas para os homens a ponto deles nos temerem por ter uma vagina dentada e continuamos um mistério, uma incógnita para nossos namorados, maridos, amigos... Qual a solução para aproximar mais os dois sexos?! Não tem uma fórmula matemática, uma receita de bolo, mas acho que como geradoras da vida devemos educar melhor os nossos filhos, ou você nunca ouviu que é a mãe a criadora do “galinha” de amanhã quando fica feliz por seu pequeno homenzinho estar com um monte de namoradinhas? A escola também tem a sua parcela de responsabilidade, sou completamente a favor de tornar matéria obrigatória educação sexual, que os meus alunos não me ouçam, mas temos tantos conteúdos sem tanta praticidade na sociedade atual. Do que adianta aprender fórmulas matemáticas complexas, guerras que aconteceram pra lá de Marrakesh se sabemos tão pouco sobre relacionamentos interpessoais e lidar com o nosso próprio corpo? Certa vez uma aluna me perguntou onde ela deveria usar a pílula anticoncepcional, acreditem, e olha que estamos falando de uma cidade grande como o Rio, a coisa está grave! Somente com uma boa educação, seja ela em casa, na escola e na própria sociedade, podemos eliminar alguns clichês que nos tornam tão estranhas para os homens e aproximar uma pouco mais as relações entre os gêneros, afinal, é conhecendo que a gente se entende, não acham?!

Para saber mais:

Quem gostou da reflexão histórica sobre o medo masculino a nós, mulheres, recomendo dois livros maravilhosos:

Jean Delumeau, História do Medo no Ocidente.

Georges Duby, Eva e os Padres.

Já a imagem do início deste post faz referência ao filme de terror para os homens e comédia para as mulheres “Teeth: A Vagina Dentada”(2007), nele, uma jovem vive em abstinência sexual, por causa da religião, descobre que possui dentes afiados. Podemos dizer que é uma versão moderna do Mito da Vagina Dentada.




Página de rosto do livro o “Martelo das Feiticeiras” de 1487, nele ensinamentos de como descobrir se uma mulher é uma bruxa.

Mariana.

11 comentários:

  1. Bem legal o texto. Parabéns Mari. =)

    Ah, vou defender meu sexo frágil aqui...

    Enquanto existirem mulheres que levantem a bandeira dessa pretensa "fragilidade" a sociedade, de modo geral, vai continuar com a mesma visão, formando pré-conceitos não só nos homens, mas também nas próprias mulheres que buscam uma identidade verdadeiramente feminina que se enquadre ao nosso século.
    Claro, há que se falar também naquelas que se aproveitam dessa pseudo-condição de sexo frágil para obterem, digamos, algumas vantagens e isenções...

    Infelizmente essas não são poucas, além do mais, vai por mim, tem muita mulher-chave-de-cadeia e vaginas dentadas por aí...

    "Et an sit melius amari quam timeri, vel e contra?"

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  2. Pois é, concordo com vc, é por isso que eu disse que nós mulheres temos que parar de frescura... Esses arquétipos tanto feminino como masculino são um problema. Mas, como eu disse no texto, envolvem relaçôes históricas e culturais.
    Tb acho que tem muita mulher "vagina dentada" por aí, ainda bem que vc encontrou uma pessoa legal, não perca pq isso é artigo raro...(Momento propaganda da melhor amiga, hahaha).

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  3. "Homens precisam mais de sexo que as mulheres"... Bem, não sei o que se entende aqui por "precisam", mas dão um bocado de importância a isso -- o que, diga-se, é comum na maior parte das espécies, ao menos entre mamíferos. É biologicamente demonstrável, e o senso comum também diz isso.

    O que se vai fazer com isso, são outros quinhentos, e cultura é algo importante nisso. Mas não vejo problema, aqui, em dar razão ao senso comum, pois ele nem sempre é mítico.

    Um abraço,
    R.

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  4. Rodrigo:
    Aí nos vamos entrar no terreno do determinismo biológico. Acho que as características culturais e a “emancipação” feminina já atenuou a muito tempo as diferenças biológicas. Quando eu digo que as mulheres precisam tanto de sexo como os homens, acredito que esta necessidade independe do sexo, fala mais ao tipo de pessoa. Conheço meninas que precisam de sexo muito mais do que muito homem por aí. Não gosto muito destas generalizações do tipo, mulher faz isso enquanto os homens aquilo...

    Bom, mas isso é secundário em relação ao que eu escrevi. Na verdade estava querendo dizer que homens e mulheres são muito mais parecidos do que a gente imagina. Por isso é que eu digo que devemos criar uma nova geração de meninos e meninas que não foquem tanto nas diferenças mas nas semelhanças.

    Um abraço para você também, caro amigo sumido!

    Mariana

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  5. Eu concordo com o Rodrigo...

    Bom, também acredito que nós homens temos uma maior necessidade de sexo do que as mulheres. A biologia só confirmou o que o senso comum diz há muito tempo.

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  6. Eu acho determinismo uma palavra muito pesada, mas homens e mulheres são biologicamente muito diferentes - homens, por exemplo, tem muito mais testoterona que as mulheres, o que resulta em uma libido maior, no entanto, ter uma libido maior não significa sair por aí sendo canalha...


    Nesse ponto, acho que o 'determinante' é a criação que meninos e meninas estão recebendo. Muitos pais ainda educam seus filhos de uma forma machista - "prendam suas cabras porque meus bodes estão soltos".

    Para compensar o machismo social, algumas mulheres tentam, a meu ver erroneamente, se igualar aos homens e se depravam. Creio sinceramente que a solução não seja buscar igualdade com os homens porque não somos iguais, devemos sim, nos aceitar e nos impor, exigindo respeito às nossas diferenças.

    Enfim, acho que uma educação voltada para o respeito ao próximo é o que falta para os gêneros se entenderem.

    Muito legal o texto, Mari!!!

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  7. Amiga Mari, parabéns pelo post.
    Antes defendiamos apenas um mundo melhor para nossos filhos, mas acho que na atual situação as mulheres precisam focar em deixar filhos melhores para o nosso mundo...

    Bem, eu defendo as mulheres independentes, fortes, decididas, etc. Mas, por outro lado acho que feminilidade é tudo, gentilezas vindas do sexo oposto são sempre boas. O que acredito que acontece é que algumas mulheres e homens também confundem feminilidade com fragilidade, e são coisas bem distintas.

    Discordo dos Rodrigos, isso de homem precisar mais de sexo para mim é um clichê usado desde os tempos da minha tataravó para que os homens pudessem ser mais promíscuos. Sexo é uma necessidade física, conheço mulheres que sentem mais falta de sexo do que homens e vice-versa. Definitivamente não é uma questão de gênero!

    Um parênteses, uma vez conversando com uma amiga, chegamos a conclusão que seria interesse se as mulheres pudessem desenvolver uma "vagina dentada". Vamos parar pensar: um homem numa situação de perigo, numa cidade violenta, em geral pode ser assaltado, já uma mulher, pode ser assaltada, estuprada ou violentada, ou seja, sujeita a maiores riscos. Se tivessemos um mecanismo de defesa - dentes, por exemplo - esse problema poderia ser minimizado. Os homens cientes da possibilidade de levar uma mordida indesejada talvez pensassem duas vezes antes de expor uma mulher a uma situação de violência sexual!

    Abraços, Bele!

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  8. Concordo com vc Bele, acho que esse negócio de dizer que os homens precisam mais de sexo do que as mulheres uma desculpa machista para eles traírem.

    Você entendeu o espírito da coisa, Bele, quando eu digo acabar com a frescura significa não ficar se colocando na posição de vítima, fragilizada por homens que não valem nada. Algo do tipo, “o que eu posso fazer? Sou mulher, passional e devo aceitar que meu companheiro me traia ou me sacaneie...” Acho também que delicadeza não é exclusividade feminina, deve estar presente em ambos os sexos, o homem não perde sua masculinidade por ser educado, gentil e sensível.

    Tem uma musica do Pepeu Gomes que eu adoro e que se encaixa bem no assunto, fala mais ou menos assim:

    “Ser um homem feminino
    Não fere o meu lado masculino
    Se Deus é menina e menino
    Sou Masculino e Feminino...”

    É maravilhosa e ilustra bem o que eu quero dizer!!!

    É uma boa perspectiva essa sua de pensar na "vagina dentada" como uma arma de defesa feminina, ia ter muito homem capado por aí!!!

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  9. Hehehe... O último parágrafo da Belle bem que poderia ser verdade, só que sexo na TPM nem pensar... =P

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  10. Só uma coisa, sou novo e acredito no sexo pós casamento, e apesar de haver a possibilidade de ser uma crença criada com os tempos, prefiro não fazer... mas a verdade é que sinto muita vontade, faria umas duas vezes por dia(no mínimo), mesmo trabalhando e estudando. Mais, apesar disso, eu queria casar com uma mulher virgem, o que piora, porque homem podem ter facilidade para serem virgem, pela dificuldade, mas a mulher não, só se ela não quiser... ai que tá, ser virgem pra mulher é respeito, pro homem é fraqueza. Os homens tentam e alguns conseguem, outros pagam, e fim. As mulheres conseguem, seja com qualquer, ou com especial, este logo após, irá embora com sentimento de vitória, e está, será rebaixada por ele, tadinha, agora perdeu seu encanto. E ai, um cara querendo se casar com uma mulher de 30, sabe o que fez, mas nunca poderá imaginar o que sua noiva deve ter feito dos 14 aos 30... ainda mais pelo nível de sexualidade de nossa era... Engando o povo sobre o sexo, fazia-se uma valorização da mulher por esta, e os homens não faziam mulheres de submissas, pois era uma troca justa... nós só fazemos sexo se vc realmente me amar a ponto de estar comigo pro resto da vida... o que hoje já não existe. RESUMINDO: O feminismo defendeu a imagem feminina, o que abriu brecha pra sua própria desvalorização.

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  11. Não é só problema de educação machista do nosso país não, mulheres são mesmo complicadas e não se cansam até conseguir brigar, sem precisar de motivos. Eu sou o cara mais paciente do mundo e mesmo assim a minha namorada consegue brigar! As vezes penso que constância é prejudicial a mulher, é preciso haver oscilações em todos os sentidos pra ela se sentir bem (???!!!). Admito que as mulheres são mais inteligentes, porém, "lógica", de fato, não é o forte delas. Perdoem o meu desabafo!

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