sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A poesia e a mulher.


Tentação

Clarice Lispector.

“Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.
Na rua vazia as pedras vibravam de calor - a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos.
Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.
Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro.
A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.
Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo.
Os pêlos de ambos eram curtos, vermelhos.
Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se com urgência, com encabulamento, surpreendidos.
No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos - lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam.
Mas ambos eram comprometidos.
Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.
A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-la dobrar a outra esquina.
Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.”


(LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.)

E você, cara (o) leitora (o), conhece algum outro poema que retrate o universo feminino? Conte para nós!

Mariana




sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O que nos ensinam Fred Astaire & Ginger Rogers.

“Mas isso não é um blog, é um muro de lamentações!” Esta foi uma crítica que ouvi ultimamente sobre o blog. Comecei a perceber que de uma certa forma, ela faz algum sentido. Vejamos, o que temos no blog; reclamações de homens, homens idealizados para o mal (não acredito que podemos simplificar as pessoas em 7 mandamentos, felizmente o ser humano é uma criatura complexa e múltipla, independentemente do sexo), choradeiras com chocolates, vítimas, vítimas, oh ... nós, pobres mulheres... Por que sempre falamos de relacionamentos mal sucedidos? Por que sempre, nós mulheres, somos vítimas de homens insensíveis? Ora, se somos vítimas deles é porque nós escolhemos sempre este papel. Leitoras, vamos parar de lamentações !!! Vamos focar em relacionamentos bem sucedidos, o que temos a aprender com eles? Acreditem relacionamentos bem sucedidos existem e não são tão raros como o ET de Varginha.

Proponho uma observação atenta em um casal da ficção em especial; Fred Astaire e Ginger Rogers. Os dois dançarinos, cantores e atores encantaram e romantizaram o mundo entre as décadas de 1930 e 1940, juntos o casal lançou sete filmes. Astaire e Rogers dançando eram perfeitos, sempre que assisto os dois em seu belo balanço penso que o amor pode ser possível. Não falo de amor romântico, impossível e perfeito como um comercial de margarina. Também não sou tão lunática assim, sei que estamos falando de uma ficção, sei que um relacionamento não é 100% perfeito, todos os casais tem seus problemas. Mas quando vejo Fred e Gingers dançar penso que um relacionamento a dois pode funcionar como uma dança; sincronismo, elegância, suavidade, leveza, paixão sem deixar um minuto o mais importante que infelizmente vem sendo esquecido; o olho no olho. Os céticos irão dizer; “isso não faz o menor sentido, é ficção, não existe, que romantismo bobo”. Tudo bem pode até ser verdade, então não vamos focar em relacionamentos perfeitos, mais nos possíveis. Aí, volto à dança, por mais que existam passos marcados ela não possui regras, cada casal faz as suas. Ás vezes cada um dança mal separado, mas juntos são perfeitos, indivisíveis...como uma dupla dinâmica. No entanto, não se atinge a perfeição sem muuuito ensaio e paciência.

Portanto, fugindo do romantismo idealizado, acredito sim nos amores possíveis, conheço alguns, inclusive. Quando falo de possíveis, falo de tolerância. Acho que falta paciência e tolerância, hoje em dia os relacionamentos estão cada vez mais descartáveis. As pessoas criam um modelo de sexo oposto e procuram uma pessoa que se encaixe naquele modelo, querem olhar para o outro e plin.... como um passe de mágica se apaixonar perdidamente e quando isso não acontece, é só frustração, deixamos de nos apaixonar e pronto, fim de relacionamento. Acredito que o amor vem com o tempo, o encanto que vem aos poucos, em doses homeopáticas, um sorriso, um olhar, um gesto, uma admiração... enfim, um olhar novo sobre aquela pessoa que às vezes não damos nada por ela. Aí sim, surgi um amor possível, um amor não idealizado de um príncipe encanto, mas um amor maduro, construído na aceitação das diferenças e dos defeitos que todos nós temos. Um amor tal como uma dança, onde o fundamental é o companheirismo e a cumplicidade. E você? Acredita?

Mariana


terça-feira, 3 de novembro de 2009

Ah, os homens...


"Homem" - Palavra que abriga uma complexidade simplista terrível. Toda vez que paro para pensar sobre eles, sinto que perco meu tempo... Mas, como gosto de perder tempo, eis um resumo rápido deste gênero tão peculiar:


1. Cuida menos da aparência. (tirando um ou outro gay - que sim, são homens, ou pelo menos pertencem ao sexo masculino - e algum metrossexual raríssimo).


2. Teimam em coçar suas partes íntimas em público. (Nem é necessário comentar, é só observar um homem na rua; três passadas, uma coçada).


3. Sempre viram a cabeça para olhar para a parte traseira de uma mulher que acaba de passar. (Não importa quem está olhando, nem se a pessoa vai se constranger se perceber. Geralmente as pessoas nascem com suas partes traseiras -embora silicone nessas áreas já exista- é um órgão como outro qualquer, como uma mão ou um cotovelo. Por que ninguém olha para trás para ver o cotovelo de uma bela mulher?).


4. Tendem a roncar mais e mais alto. (Passaram mais de uma vez na fila dos problemas respiratórios antes de nascer - ou é isso ou Deus detesta as mulheres e não quer que elas tenham um sono tranquilo ao lado de seus maridos).


5. Não escutam bem. (Não tem necessariamente problemas físicos nos timpanos, mas tem surdez psicológica, só ouvem o que querem e quando querem).


6. Vivem se gabando por possuírem mais neurônios que as mulheres, mas não os utilizam muito, então do que adianta? (são muito "ingênuos" - para não dizer burrinhos mesmo... cometem uns erros primários que são dignos de pena. Exemplo: esquecem a própria mentira que contaram).


7. São sexualmente atraídos por qualquer coisa. (E quando eu digo qualquer coisa, eu digo QUALQUER COISA mesmo, as cabras do interior que o digam...).


Bem, esses são alguns dos ítens que consegui lembrar sobre o brilhante sexo masculino. É, realmente perdi meu tempo novamente...
E só para finalizar: não sei se sou só eu, ou realmente as vezes dá em todas nós, uma vontadezinha de agir igual a protagonista da tirinha do início... rsrs


Jacqueline